sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Principais Indicações Clínicas da Radioterapia

          Quando a radioterapia está inserida no contexto de um tratamento que visa ao aumento da sobrevida do paciente, dizemos que a intenção do tratamento é radical. Quando, entretanto, ela visa somente à erradicação de sintomatologia decorrente do efeito de massa tumoral (dor, sangramento) e melhora da qualidade de vida, dizemos que a intenção é paliativa.
          Abordaremos os principais tumores em que a radioterapia exerce papel na terapêutica.

TUMORES DO COLO UTERINO
          Os estádios iniciais (sem invasão dos paramétrios) podem ser tratados com cirurgia (histerectomia radical) ou radioterapia, com resultados similares. Quando se deseja a preservação das funções vaginal para o coito e ovariana, a cirurgia faz-se melhor indicada, posto que a radiação causa estenose vaginal e esterilidade ovariana. Contudo, em muitos casos que sucedem a histerectomia, é necessária a complementação com radioterapia pélvica, em função dos achados histopatológicos à cirurgia, ou a histerectomia sem ooforectomia não é possível.
          Casos avançados (a partir das situações com envolvimento de tecido parametrial) são tratados com a associação de radioterapia e quimioterapia. Em 1999, ensaios clínicos bem conduzidos foram publicados demonstrando, inquestionavelmente, a superioridade dos regimes radioquimioterápicos concomitantes, quando comparados aos regimes radioterápicos exclusivos.
          O tratamento com radioterapia engloba uma fase de radioterapia externa, geralmente na dose de 45Gy administrada em 25 frações à pelve, que trata o tumor, todo o útero e os linfonodos pélvicos, aliada à braquiterapia intracavitária, que libera dose focada ao leito do tumor, preservando, com mais habilidade que a radioterapia externa, a bexiga e o reto.

TUMORES DO CORPO UTERINO (ENDOMÉTRIO)
          A maioria destes tumores, mesmo em países subdesenvolvidos, são iniciais, detectados precocemente, por darem sintomatologia precoce. São tratados primariamente com cirurgia. Em função dos fatores prognósticos presentes à peça cirúrgica (grau histológico e profundidade de invasão da parede uterina), recebem radioterapia pós-operatória. Geralmente, associa-se a teleterapia pélvica à braquiterapia intracavitária do fundo vaginal.

TUMORES DE CABEÇA E PESCOÇO
          Tumores de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe, seios faciais e laringe iniciais são tratados com cirurgia ou radioterapia, com resultados similares. A preferência por uma ou outra terapêutica dá-se em função da maior experiência da instituição onde o paciente é tratado, ou das potenciais complicações advindas com cada tipo de tratamento. Por exemplo, tumores de cavidade oral, que, se tratados com radioterapia, resultariam em excesso de toxicidade mucosa, talvez sejam melhor tratados com cirurgia. Tumores de laringe glótica inicial são abordados preferencialmente com radioterapia, dada a maior chance de preservação laríngea com este tratamento.
          Tumores destas localizações, quando locorregionalmente avançados, são tratados por uma combinação de cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Geralmente, a quimioterapia e a radioterapia sucedem a cirurgia, em caráter concomitante.
          Tumores avançados são um dos exemplos em que vários estudos clínicos demonstraram aumento do controle local e/ou da sobrevida global com a utilização de esquemas de hiperfracionamento. Dos esquemas utilizados, o mais popular, na atualidade, é o de boost concomitante. Estudo prospectivo do RTOG (Radiation Therapy Oncology Group) demonstrou ganho de controle local com uso deste esquema.
          Tumores de nasofaringe iniciais são tratados com radioterapia exclusiva. Os avançados requerem a associação de radioterapia e quimioterapia, em caráter concomitante.

TUMORES DE PULMÃO
          São divididos em dois grandes grupos: os não-pequenas células e os pequenas células.
- Não-pequenas células: Compreendem os carcinomas escamocelulares, os adenocarcinomas, os tumores de grandes células. Os iniciais são tratados com cirurgia (lobectomia e esvaziamento linfonodal mediastinal), seguindo-se radioterapia e/ou quimioterapia, em função dos achados anatomopatológicos da peça cirúrgica. Os localmente avançados requerem a associação de radioterapia e quimioterapia.
- Pequenas células: Geralmente tratados com radioterapia e quimioterapia nos casos de doença limitada e quimioterapia na doença extensa.

RECEPTOR DO FATOR DE CRESCIMENTO EPIDÉRMICO (EGFR) E ONCOLOGIA
          A família erb de receptores membranares está expressa em uma infinidade de tumores humanos. O EGFR consiste no receptor da família erbB-1, que encontra-se superexpresso em grande parte dos tumores de pulmão e de cabeça e pescoço. Geralmente, maior expressão deste receptor indica maior capacidade de invasão local, de metastatização a distância e menor resposta à radioterapia, enfim, pior prognóstico dos tumores. Eles são antagonizados por anticorpos específicos, tais como o cetuximab, droga ativa no tratamento das neoplasias de cabeça e pescoço, ou por inibidores da tirosina-quinase (gefitinib, erlotinib), uma enzima que participa como efetora da cascata de eventos bioquímicos deflagrada pela ativação do EGFR.
          Nos últimos anos, demonstrou-se que tumores de cabeça e pescoço com alta expressão destes receptores apresentam resposta à radioterapia mais favorável com a utilização de esquemas hiperfracionados.

Nenhum comentário: